Festas das Gualterianas

 

 

São Gualter

São Gualter foi um religioso franciscano enviado por São Francisco de Assis para iniciar a sua missão em Portugal no princípio do século XIII, tendo como objectivo mostrar ao país a Ordem dos Frades Menores (franciscanos). O Frei Gualter estabeleceu-se em Guimarães, este foi considerado o padroeiro da cidade portuguesa. Gualter ganhou a simpatia dos habitantes vimaranenses devido às suas acções e pregações.

Frei Gualter morreu provavelmente em 1259 e foi sepultado no primitivo convento.

A devoção popular e os milagres que lhe foram atribuídos levaram à criação da Irmandade de São Gualter por volta de 1527. Em 1577, a irmandade construiu uma capela na Igreja do Convento da Ordem, onde foram depositadas as relíquias do santo.

A capela de São Gualter da igreja franciscana foi demolida em 1750 e novamente edificada apenas em 1800. Já em meados daquele século, o altar da irmandade foi transferido à Igreja dos Santos Passos de Guimarães, onde se encontra uma imagem oitocentista do santo.

Em 2009 foram redescobertos, escondidos numa antiga imagem de roca na igreja franciscana, restos humanos que seriam de São Gualter.

Apesar das festas Gualterianas serem objecto de veneração popular, São Gualter não foi oficialmente santificado pela Igreja Católica.

 

Gualterianas

As “Gualterianas”, em honra de São Gualter, decorrem desde 1906, sempre no primeiro fim-de-semana de Agosto, onde vimaranenses e visitantes marcam encontro na cidade-berço e, em ambiente de comemoração participam nas diferentes iniciativas que as festas lhes oferecem.

Estas festas estão marcadas pelo Cortejo do Linho e pela Batalha das Flores. Para as encerrar, como é Tradição, a Marcha das Gualterianas.

A estas festas estão ligadas ainda o Concurso de Gado Bovino e Cavalar, o fogo-de-artifício, os cantares ao desafio, a procissão.

As Festas das Gualterianas inserem nas antiquíssimas feiras francas que desde o tempo de D. Afonso V se realizavam em Guimarães sob a invocação de São Gualter.

Foram três os aspectos que as Festas Gualterianas adoptaram, desde o início. Em primeiro lugar, mantiveram o carácter das “feiras francas”, que se vinham realizando continuamente desde 1542, com a permissão de D. Afonso V, que as revestiu de muitos benefícios e privilégios. Inicialmente, realizavam-se de 7 a 17 de Agosto, mas depressa passaram para 2 de Agosto, num local que viria a receber o nome de “Campo da Feira”. A verdade, é que a “Feira Franca de São Gualter” está ligada, ao Campo da Feira, actual Largo da República do Brasil, onde se reúne, uma parte significativa da animação popular que envolve estas festas. O segundo aspecto foi a transformação desta “Feira Franca” em “Festa da Cidade”, envolvida num conjunto de iniciativas de nível económico e cultural que, ganharam a adesão da população vimaranense. O terceiro aspecto é o carácter festivo deste acontecimento, foi a criação da “Marcha Milaneza”, mais tarde designada por “Marcha Gualteriana”, um cortejo que teve certo impacto sobre as festas, que ficaram comprometidas as próprias Festas da Cidade, passando a realizar-se as “Feiras Francas de São Gualter”.

As Festas da Cidade e Gualterianas realizam-se entre os dias 31 de Julho e 3 de Agosto, cumprindo o que têm sido, ao longo dos anos, um espaço e tempo de vivência, de concentração, de movimento, de cores, de emoções e de demonstrações de vitalidade económica e cultural do concelho o que constituem uma importante atracção festiva de todo o Minho.

 

Batalha das Flores

Guimarães, antigamente, teve tradições implantadas no cultivo de flores naturais e arranjos de flores artificiais e existia espectáculos vimaranenses, onde eram levadas a concurso, vulgarmente, por senhoras da nobreza ou por religiosas dos conventos de Guimarães.

Ligada a esta capacidade produtiva e ao sucesso das flores vimaranenses, organizaram-se tradições festivas como “A Batalha das Flores”, onde actualmente faz parte da programação das festas de Guimarães, “Gualterianas”. Isto deve-se á capacidade de preservação desta tradição antiga, onde se representava num cortejo de carros alegóricos, revestidos de flores, muito figurados sujeitos a prémios.

As flores, naturais ou artificiais, em papel, pano ou linha ficaram, devido à sua perfeição, ligadas às Gualterianas que actualmente se realizam de 2 em 2 anos, alterando com o “Cortejo do Linho”.

Na “Batalha das Flores”, os carros alegóricos do desfile e as flores artificiais são feitos pelos “obreiros” da Associação da Casa da Marcha com o apoio de idosos dos lares de Guimarães.         

 

Cortejo do Linho

Da cultura do linho, outrora florescente da região do Baixo Minho prevaleceram os célebres “Bordados de Guimarães” e algumas tradições da memória cultural que teimam em preservar, nos velhos teares que ainda estão a uso, nas roupas folclóricas de tecedeiras, nas ferramentas carunchosas e cheias de picos onde servia para “ripar” “assedar” ou “pentear” as fibras de estopa antes de as levar a fiar, nas festas etnográficas do “Linhal da Corredoura” (S. Torcato) ou nas miniaturas do “Museu de Fermentões” onde esta actividade teve uma grande intensidade.

Devido aos progressos tecnológicos aos avanços da industrialização sobre o campo ou mesmo da globalização comercial que abrange os mercados do interior, impondo produtos externos, também a cultura do Linho já ultrapassada como actividade económica no mundo rural passou a um imaginário colectivo.

No sentido de recuperar pedagogicamente os factores culturais que correm o risco de se extinguir definitivamente, princípios e formas de vida social de comunidade, as “Gualterianas” passaram a integrar na sua programação o “Cortejo do Linho”.

O cultivo e o trabalho do linho na região de Guimarães, era uma das principais indústrias caseiras de confecção de vestuário ligado ao consumo familiar ou até mesmo para pagar as rendas e foros.

Produto de um árduo trabalho que o povo tentou suasizar pelos rituais e pela festa, durante o ciclo da sua produção desde a terra de semeadura até à tecelagem, o linho exige cuidados especiais, em todas as fases do seu cultivo, tratamento e transformação.

Nas “Gualterianas” os carros alegóricos que desfilam no “Cortejo do Linho” constituem um repositório das tradições e vivências populares ligados à cultura do linho, cujo ciclo de vida começa na Primavera, quando o lavrador prepara os terrenos para “semeada da linhaça”, que termina três meses depois, em princípios de Julho, quando a haste de planta está amarelecida e é arrancada é levada em molhos para a eira, para “ripar”. Depois de ripado, o linho é posto junto e carregado num carro de bois onde é levado para o rio, passado seis a oito dias quando está pronto é levado e posto a secar ao sol durante cerca de quinze dias, preparando-o para as fases de “malhar”, “macerar”, “espadelar” e “assedar”. Este processo é demorado e só lá para Dezembro é que fica pronta para “fiar”, “barrelar”, “dobrar e tecer” no tear manual, mais tarde vão parar às mãos das tecedeiras, estas que fazem lindos bordados em pontos abertos e cheios aproveitando a natureza como inspiração.   

Milhares de pessoas assistem à passagem do cortejo que, em diversos carros alegóricos, reconstitui os trabalhos do linho e os enfeita do folclore das cores vivas e das alegres danças e cantares da região do Baixo Minho.   

            

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